17.5.10

Garra de desportista


Garra de desportista



13.05.2010

Os portugueses ainda são um dos povos mais sedentários da Europa, mas o panorama está a mudar. As empresas já perceberam as potencialidades da prática desportiva e o seu impacto no quotidiano profissional. Gestão de stress e de conflitos, orientação por objectivos, reforço do espírito de equipa são alguns dos vectores empresariais que o desporto pode ajudar a consolidar.


O exercício físico é um bálsamo para a alma e para o corpo e apesar dos portugueses continuarem campeões do sedentarismo a nível europeu, a realidade é hoje bem diferente de há uma dúzia de anos. A vontade de quebrar o ciclo vicioso da preguiça leva, só para as academias de desporto e ginásios particulares, cerca de 600 mil praticantes. Um número que tem vindo a crescer com o contributo de um segmento importante: o das empresas que estabelecem protocolos com os ginásios para a prática desportiva dos seus colaboradores. Na verdade, se há alguns anos recrutar, por exemplo, um atleta de alta competição causava alguma apreensão a muitos empresários pela consciência de que a profissionalização na carreira desportiva exige elevadas horas de treino, hoje não há dúvidas dos inúmeros benefícios que a prática desportiva confere ao quotidiano profissional. Maior aptidão para trabalho em equipa e enfoque nos resultados, melhor capacidade de gestão de conflitos e stress, são apenas alguns pontos fortes desta prática. A lista é tão extensa que até as empresas de recrutamento e selecção já perceberam a vantagem de impulsionar a prática desportiva e de surgirem no mercado associadas a altletas que marcam a diferença e inspiram multidões. Um incentivo assente no secular lema “corpo são, mente sã”.

Não brilha nos relvados, nem é mestre da bola, mas é o velejador do momento. Francisco Lobato tem 25 anos, é português e prepara-se para conquistar o mundo solitariamente no seu barco. É finalista do curso de Engenharia Naval e a sua grande paixão é o oceano. No ano passado foi o vencedor da regata Transat 6.5 e parte agora no seu barco o Fígaro Roff à disputa do campeonato francês da modalidade. É determinado, objectivo, aventureiro, sem medo de desafios e hábil a gerir adversidades. Características que alcançou graças à sua prática desportiva e ao muito treino que ela exige. Características que fariam a diferença para qualquer empresa.

Líderes como Francisco Lobato são para as empresas fontes de inspiração e motivação de equipas, como explica Mário Costa, administrador da Select e da agora Tempo-Team (ex Vedior). O especialista enfatiza o impacto do treino desportivo no quotidiano profissional e argumenta que foi à luz destes benefícios que, no seu arranque, a Tempo-Team apostou em associar-se e incentivar eventos desportivos de relevo. Patrocinadora oficial do Estoril Open e da viagem solitária do navegador Francisco Lobato, a empresa especializada na gestão de recursos humanos assume, segundo o seu líder “a promoção da valorização do trabalho em equipa como uma das fórmulas de sucesso organizacional, sabendo que o êxito de uma equipa está directamente ligado ao somatório das valorizações pessoais de cada um dos seus intervenientes”.

Não serão difíceis de imaginar os desafios, confrontos e adversidades com que se depara Francisco Lobato nesta sua travessia solitária, sobretudo quando se aventura em provas de competição com milhares de milhas que o levam á travessia de oceanos. Para Mário Costa “independentemente da sua classificação que tem sido sempre de topo, Francisco Lobato é o exemplo perfeito do que a Tempo-Team procura em cada colaborador que propõe aos seus clientes: alguém que saiba enfrentar os mares com que se depara na vida profissional”.

Uma visão que é já partilhada por muitos líderes em inúmeras organizações. Ainda que com menor grau de ambição e exigência, a adesão à prática desportiva tem vindo a aumentar entre os portugueses, em grande escala incentivada pelas empresas que de forma crescente tem apostado no estabelecimento de protocolos de colaboração com ginásios, facilitando o acesso ao desporto aos seus colaboradores.

“Desde 1998 que o nosso sector modernizou-se, a formação dos seus profissionais aumentou e a ‘moda' dos ginásios instalou-se, contribuindo para um crescimento sustentado em todos os segmentos, (incluindo o dos seniores e o das mulheres, por exemplo). O ninho das empresas sempre foi muito significativo e seria ainda mais se houvesse incentivos estatais para a prática de desporto”, realça José Luís Costa, presidente da Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal (AGAP).

Estima-se que 65% da população activa seja sedentária, um número que justifica uma taxa ainda baixa de penetração dos ginásios privados em Portugal, que ronda os 5,7%, bem longe ainda da média europeia fixada nos 7,9%.

“Para conseguirmos chegar à média, seriam necessários mais 200 mil praticantes nos próximos quatro anos”, diz o presidente da AGAP. Ainda assim, o sector dos privados em matéria da prática de exercício físico – cerca de 1400 empresas - , movimenta um volume de facturação de 450 milhões de euros e 10.000 postos de trabalho.

Mas a verdade é que os incentivos fiscais poderiam fazer disparar o número de adeptos da prática desportiva à semelhança do que acontece nos países nórdicos. “Para o segmento das empresas que têm protocolos com as academias, por exemplo, e que através deles mobilizam os seus trabalhadores, - contribuindo assim para a produtividade -, deveria ser possível a dedução em sede de IRC”, exemplifica José Luís Costa. Ou deduções no próprio IRS, levando cada vez mais pessoas para a prática do exercício.

“Isto leva-nos a uma questão recorrente nos debates que fazemos: mais impostos e menos saúde ou mais vale menos impostos e mais saúde, com todos s ganhos que daí advêm para todos?”, atira o presidente da AGAP. Para pôr Governo e deputados a pensar, e a decidir favoravelmente, sobre o tema, a AGAP prepara um pacote de documentos que serão apresentados em Setembro próximo, no início do novo ciclo político. Na certeza de que esta é uma equação onde todos ganham: colaboradores, empresas e consequentemente o país já que mais saúde e mais motivação geram, seguramente, mais produtividade e empenho.


in expressoemprego

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